(Raquel Pereira)
Estava voltando do laboratório, uma manhã bem quente, é certo que estava no limite da manhã e começo da tarde, dirigindo-me ao ponto de ônibus.
Estava voltando do laboratório, uma manhã bem quente, é certo que estava no limite da manhã e começo da tarde, dirigindo-me ao ponto de ônibus.
Acredito que nunca
falei dos benefícios do transporte público, é lógico que, ter um carro é bem cômodo,
te leva pra onde quer sem aquelas paradas indesejadas, tem a vantagem de traçar
qualquer caminho, mas... perde em uma coisa: em um carro você deixa de observar
as coisas mais engraçadas e interessantes do dia dia, coisa que conforto nenhum
te proporciona. Bom...não é a respeito das vantagens e desvantagens de um ou de
outro que quero ater-me nesta Crônica.
Na passagem do meu relógio os ponteiros pendiam para
tarde, abandonavam lentamente os embaraços naquela manhã. Cheguei ao ponto de
ônibus, o movimento era grande, muitas pessoas iam e vinham, mas... no meio
daquela loucura uma cena me chamou a atenção, uma mãe com uma menininha que
tinha no máximo 2 anos e um vendedor que passava lentamente tentando refrescar
a alma das pessoas.
A figura do vendedor me inquietou, o serviço dele embora
não reconhecido trazia conforto naquela manhã, vendia água! Ele gritava: OLHA
ÁGUA GELADA, ÁGUA GELADA!
Para minha surpresa a menininha tomou a fala do vendedor como
uma grande brincadeira e se colocou a tagarelar: OIA AGA GILADA, AGA GILADA!
Uma graça, toda vez que o homem falava ela se prontificava em repetir.
A mãe sem entender o prazer da brincadeira, ofereceu a
água gelada pra filha, que na mesma hora recusou, afinal o desejo dela não
estava no objeto água gelada para saciar a sede e sim no objeto AGA GILADA como
brincadeira de repetição.
E assim foi ela repetindo cada vez mais a brincadeira, se
deixando levar por um momento tão significativo e prazeroso. Bobagens para
alguns, aprendizado para ela.
O que me chamou a atenção naquele dia não foi o fato da
cena em si, mas como as coisas simples vão perdendo espaço em nossas vidas,
como uma simples brincadeira ou descoberta vai passando em branco, o quanto o nosso
cotidiano apressado vai tampando as telas mais bonitas.
Hoje eu fico na memória e repito mil vezes. Neste sábado
eu só quero lembrar:
- AGA GILADA, AGA GILADA!
Nenhum comentário:
Postar um comentário