quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O dia em que o amor foi embora por causa do xixi

(Raquel Pereira)

Título melhor eu não poderia encontrar, era uma quinta feira de manhã, não tão de manhã, pois as galinhas e os galos já se levantaram a muito, as fábricas já tocaram suas sirenes e os trabalhadores já entraram no trabalho.

Finalzinho da manhã, faltando algumas horas para começar à tarde, batia no relógio 10h15min por aí, não me ative tanto ao exato momento, o importante é que saibam que eu estava na sala de espera de um laboratório.

Embora o dia estivesse quente, lá estava gostoso afinal o ar condicionado fizera o seu trabalho. Uma tranquilidade, nem o choro que se ouvia bem baixinho de longe quebrava o clima agradável.

Eu não sei ao certo de que direção as duas vieram, só sei a direção em que foram (Banheiro), ela até então a mãe, a garotinha no máximo 9 anos, a tranquilidade então se quebrou deu espaço a uma cena que me cortou o coração:

A mãe em bom tom dizia:

- Vai faz logo esse xixi, nunca vi alguém demorar 3 horas para fazer um xixi!

E quanto mais ela falava menos a menina fazia. Ela foi dizendo que estava perdendo horas no trabalho, que aquilo era frescura da menina, que era só fazer, e foi dizendo uma enxurrada de papagaiadas, por fim bufando saiu batendo os pés, enquanto a menininha pelo corredor levantava a roupa e dizia:

- Mãe me espera!

Ela passou por mim com o olho cheio de lágrimas e eu só pude dizer, com olhar acolhedor;

-Pequena!

Morrendo de vontade de pegar no colo e dizer pra que não ficasse assim, xixi não pode ser comandado, que ela não tinha culpa por não conseguir fazer.

Mas tem coisas que não podemos...

Fico pensando na loucura que é o mundo adulto, cheio de prazos e exigências, você tem que fazer, precisa cumprir metas, precisa...precisa...precisa e bum!

A que ponto chegamos no mundo das exigências, ousamos ordenar como reis:

- Ei xixi saia agora! ou - Ei xixi você não vai sair.

Mas o corpo é esperto, o corpo não aceita o autoritarismo desenfreado, ele segue o que precisa seguir, doa a quem doer.

Nenhum comentário: