sábado, 5 de setembro de 2015

Aos Desconhecidos


                                  Em memória de Francisco Erasmo Lima e tantos outros...

( Raquel Pereira )

Outro dia assisti um filme recomendado por uma amiga, um filme que a princípio não pareceu nada atrativo, daqueles que se você é impaciente desiste logo  no começo. Bom... dei crédito muito que desconfiada, só continuei por ter um gosto bem parecido com o dela.

O filme chama Alguém qualquer, conta a história de um homem simples, solitário,  condenado à morte por uma doença cardíaca, Zé quase sem voz passa desapercebido como uma sombra, até que... uma prima de não lembro quantos graus chega para morar em sua casa.

Ela transforma o mundo dele totalmente, principalmente quando descobre que o primo está prestes a morrer, cria diversas situações para que ele aproveite a vida antes do dia fatídico.

O que no começo era pena vira amor, os dois se veem apaixonados.  Ela traz o medo da morte que Zé não tinha. O amor tem dessas coisas dar significado onde antes não tinha.

Ela o cativou, assim como o pequeno Príncipe fora cativado pela Rosa, ou como a Raposa ansiava que o Príncipe a cativasse.

Agora ele, antes solitário e sem medo de ir pois nada deixaria, estava preso, cativado por um amor que o fazia ter medo de morrer. ..ela estava grávida.

Ele por sua vez se fechou como uma “ostra”. Ela... não compreendera que ostras escondidas podem preparar grandes surpresas.

A prima de não sei quantos graus foi embora, não aguentou o isolamento da ostra. A ostra por sua vez não se abriu continuou ali formulando coisas dentro de si.

E foi assim que um dia o coração do Zé parou de bater, ele sozinho em uma humilde casinha. Só foram dar conta de sua morte dias depois, a ostra era organizadinha e nunca se atrasava e muito menos faltava ao trabalho.

Tá aí uma vantagem de ser CDF no trabalho, principalmente se você mora sozinho e não tem parentes perto, mas deixemos as preocupações de lado. Voltemos ao Zé...

Depois de muito tempo a prima apareceu e descobriu a partida. Foi orientada a procurar o antigo trabalho do primo. E foi assim que  ela bem abatida, criança no colo, descobriu o segredo da ostra... O mais belo tesouro... uma casa simples, com todos os detalhes mais lindos, tesouro que a ostra tinha preparado para ela e o filho, filho que não precisaria de nada pois seu pai trabalhara e todo o seu dinheiro fora deixado para ele.

Ostras podem trazer grandes surpresas...

Fico pensando quantas ostras conhecemos, quantas pessoas passam em nossas vidas, algumas nem do nome nos recordamos. Mas tenho certeza que se alguma vez tivéssemos a curiosidade e paciência encontraríamos por aí muitas ostras como Zé.

Durante a escrita desse texto meu pai me contou a história de um morador de rua, ele corajosamente morreu tentando salvar uma senhora hoje na Praça da Sé, ela refém de um rapaz,  ele nem a conhecia, mas cá pra mim devia ser uma dessas ostras que ninguém vê, ninguém ouve e nem sabe o nome, mas que trazem grandes surpresas.

Viva as ostras! Viva aos Zés!  Viva aos que vivem na sombra, mas que trazem o sol em seu coração.

Nenhum comentário: